Engenharia, Operação e Educação de Trânsito
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Por que dirigimos assim?
Tom Vanderbilt
Tom Vanderbilt, o autor do excelente livro “Por que dirigimos assim?”, é um designer que analisa o trânsito que tem de enfrentar no dia-a-dia a partir de sua visão de motorista. Mas não fica repetindo as velhas ladainhas. Permeia suas observações com informações levantadas junto a especialistas no assunto (sem acreditar cegamente neles!).
Um livro feito com muito cuidado, bem traduzido, e que merece ser lido. O capítulo “Como nossos olhos e mentes nos traem na estrada”, por exemplo, é rico em informações que podemos aproveitar no nosso trabalho. Tenho de confessar que, após 30 anos de Engenharia de Trânsito, estou aprendendo muito com esse designer. Transcrevo um trecho do livro, onde fenômenos complexos do trânsito são explicados de um jeito bem compreensível. Lá vai:
Pegue 1 kg de arroz e o despeje, ao mesmo tempo, por um funil de Becker vazio. Observe quanto tempo leva. Em seguida, pegue o mesmo volume de arroz e despeje, não ao mesmo tempo, mas em fluxo suave e controlado, e veja quanto tempo isso leva. Qual quilo de arroz passa mais rapidamente? Em uma demonstração desse experimento simples pelo Departamento de Trânsito de Washington, levou 40 segundos para 1 kg passar pelo funi no primeiro método. O segundo método levou 27 segundos, praticamente um terço a menos do tempo. O que pareceria mais lento na verdade é mais rápido.
O arroz tem mais relação com o trânsito do que você pode imaginar. Em pontos como gargalos, o trânsito age menos como água (ele não acelera à medida que a estrada se torna mais estreita, para começar) e mais como arroz: os carros, como grãos, são objetos independentes que se comportam de modo peculiar. O arroz é o que se chama de uma “mídia granular”, um sólido que pode agir como um líquido.
Por que o arroz se acumula quando o despejamos no funil? O influxo de arroz excede a capacidade de abertura do funil. O sistema fica cada vez mais denso. As partículas passam mais tempo em contato entre si. Mais arroz toca mais arroz. O arroz fica “suspenso” em virtude do atrito com as paredes do funil.
Despejar menos arroz – ou deslocar menos carros – garante mais espaço, e menos interações, entre os grãos. As coisas fluem mais rapidamente.